Nos dias 28, 29 e 30 de Maio realizou-se em Miranda do Douro uma Feira Medieval. Que eu tenha conhecimento, este foi o primeiro evento do género, embora alguns residentes tenham memória de ter havido algumas pequenas iniciativas.
Também foi uma novidade para mim o facto de me ter deslocado a Miranda do Douro no papel de turista, apesar da minha residência oficial continuar a ser nessa cidade. Mas foi na qualidade de turista que estive dia 29 e 30 a acompanhar grande parte do programa da feira.
Pelo que pude saber, o dia 28 foi muito animado, com a participação de alunos de escolas dos concelhos Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso. Muitas crianças integraram o desfile, talvez mais do que o número de assistentes, uma vez que realizando-se em dia de trabalho, só os pais de alguns alunos se podem ter deslocado à cidade para assistir. À noite houve animação no largo do castelo.
No Sábado, levantei-me cedo. Não queria perder nada dos acontecimentos. Rapidamente verifiquei que o programa era uma mera indicação, e que tudo iria ocorrer com pelo menos uma hora de atraso. Mas foi bom porque assim pude andar pelo recinto do largo do castelo, calmamente, apreciando tudo e cumprimentando alguns amigos que não via há bastante tempo.
Soube que a população da cidade se preparou durante alguns meses para o evento. Confeccionaram as roupas ao estilo da época medieval e planearam tabernas, comidas, artesanato e encenações. Os primeiros personagens que vi no Mercado eram pessoas conhecidas, mas começaram a aparecer pessoas de outras raças, negros, mouros, soldados, malabaristas, músicos e nobres.
Depois de aberto “oficialmente” o Mercado, a animação tomou conta de tudo e as pessoas começaram a surgir como que por encanto. É conhecida a afluência de espanhóis durante o fim-de-semana a Miranda do Douro e a Feira Medieval foi mais um atractivo de peso. Esta pequena cidade vive muito do comércio, e com uma grande quota da restauração. Este evento, tal como outros no passado e no presente, pretendem atrair mais gente do lado de lá da fronteira, uma vez que Espanha parece mais “próxima” do que Portugal. Pode ser que o IC5 venha alterar um pouco esta tendência, mas muito dificilmente isso acontecerá.
Passei toda a manhã no recinto do “Mercado”, visitando todas as barraquinhas, apreciando o artesanato e produtos da terra de Miranda. À hora de almoço o recinto ficou praticamente vazio. O sol intenso queimava e isso fez com que as barraquinhas de comes e bebes não tivessem muitos clientes.
Estava na hora de almoço mas não quis desperdiçar o intenso céu azul que tanto gosto de fotografar. Deixei o recinto do castelo e, em vez de ir almoçar, fiz uma volta rápida por toda a cidade antiga, tirando proveito da decoração e da luminosidade, que estava fenomenal. Foi uma volta cansativa, mas valeu a pena. Com tempo mostrarei algumas das fotografias que tirei.
Ao início da tarde aconteceu a chegada de D. Isabel. O cortejo começou na Av. Aranda de Duero e dirigiu-se depois para o Largo do Castelo. Nesta altura pode dizer-se que já havia uma multidão a acompanhar o cortejo.
Entre outras coisas, uma esbelta dançarina executou uma dança do ventre com tamanha graciosidade que, por momentos, se fez um grande silêncio na assistência. O cortejo seguiu depois para o jardim dos Frades Trinos, não sem antes parar no Largo da Sé. Aqui aconteceu uma das cenas mais caricatas, quando um par de noivos que se preparavam para a cerimónia se viu, sem mais nem menos, perante o Rei com toda a sua corte. O Rei prescindiu da prima nocte, mas o casal teve que integrar o grupo de baile e executar uma verdadeira dança palaciana perante os aplausos da assistência e dos seus convidados.
No jardim dos Frades Trinos realizou-se um torneio de armas de cortesia entre cavaleiros portugueses e castelhanos. Cavaleiros só havia um, mas isso não impediu que houvesse um grande espectáculo de lutas com espadas e exercícios com falcões. Deve ter sido um dos momentos mais apreciados dos três dias de festa. Adorei o cavaleiro e o seu cavalo, dois verdadeiros artistas.
De regresso ao Largo do Castelo fui surpreendido com um dos momentos mais entusiasmantes do evento: a actuação de um grupo de música medieval, penso que era da Bretanha, chamado Tornals. É fantástico como o som nos pode fazer viajar no tempo! A musicalidade, a indumentária e o entusiasmo dos executantes, foi tudo fantástico.
À noite decidi jantar no Mercado. Com o fresco da noite já todas as tasquinhas se encheram de clientes que se deliciaram com os mais variados manjares. Havia porco no espeto, javali, tripas e muitas outras iguarias servidas de forma pouco habitual, uma vez que havia algumas regras que era necessário respeitar.
Enquanto saboreei o meu jantar actuaram os Pauliteiros de Prado Gatão.
A Ceia Medieval, servida com todos os requintes no interior do castelo, não tinha muitos comensais. Eram mais os animadores que alegravam o banquete do que aqueles que comiam. Não cheguei a perceber o porquê desta situação. Não sei se foi o preço que afastou os clientes ou se a falta de informação. É que os acontecimentos sucediam-se e não era fácil estar a par de onde, e o que é que se estava a passar. Trouxe sempre o programa comigo e confesso que às vezes me senti perdido.
Ainda a ceia não tinha terminado e já uma mesnada leonesa raptava as freiras e as fechava na torre do castelo. Preparam-se os soldados para o resgate das freiras (que ao que parecia não queriam ser resgatadas). Armaram-se os pauliteiros com bestas, mas os castelhanos estavam mais interessados nas freiras e numa pipa de vinho (que era a sua perdição). Resgatadas as freiras, já não muito castas, armou-se um baile com os Pauliteiros.
Quase sem deixar respirar o público, as Lérias – Associação Cultural e a Caramonico, de Palaçoulo, apresentaram uma encenação, Caça ao Trasgo, que culminou com uma dança em que os tradicionais paus dos pauliteiros foram substituídos por verdadeiras espadas. O bater violento do metal ao ritmo da dança dos pauliteiros causava arrepios na assistência e causou também alguns ferimentos nos valentes bailadores. Dança, música, fogo e a virilidade dos jovens executantes cativaram o público que os aplaudiu com muito entusiasmo.
Depois de mais algumas danças medievais executadas por um grupo vindo de Óbidos, subiu ao palco para abrilhantar o resto da noite o grupo Galandum Galundaina. Tocaram algumas músicas do seu último álbum, lançado recentemente. Este grupo, formado por filhos da terra, é o mais conhecido e internacional grupo do Planalto Mirandês. Marcam presença em festivais de música tradicional pelo mundo inteiro, mas é em Miranda que se sentem em casa.
Perto da meia-noite regressei a casa. Não queria perder as actividades do dia 30 e tinha que descansar de um sábado intenso, com tantas cores, sons e sabores que os sentidos tiveram dificuldade em processar.
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