23 de julho de 2011

Festa de St.ª Marinha em Cércio

A festa de St.ª Marinha, em Cércio, tem uma particularidade que a distingue das restantes festas do concelho e eu quis, mais uma vez, estar presente para o comprovar.
No dia 22 realizou-se o Dia dos Caracóis. Começa já a assumir-se como uma tradição no primeiro dia das festas de St.ª Marinha, muita gente do concelho deslocar-se a Cércio para uma enorme petiscada, que tem como principal atracão os caracóis. Não deixa de ser caricato o facto de nesta região nem ser muito habitual ou tradicional comer caracóis! Quis saber mais um pouco como surgiu esta tradição.
 Subsiste a crença, não sei se verdadeira, que a aldeia de Cércio se situava um pouco mais abaixo do lugar onde está hoje, junto do ribeiro, nas imediações da capela de St.ª Marinha que seria, na altura, a igreja do povoado. Certo é que, na memória dos habitantes de Cércio, está ainda bem presente a imagem da capela completamente cheia de silvas e em ruínas. A recuperação deu-se entre os anos 1993 e 1994 (e eu conheci-a em 1996). Durante alguns anos não houve comissão de festas sendo a mesma dinamizada pela Junta de Freguesia. Mais tarde juntou-se um grupo de pessoas que se responsabilizou pela realização da festa. E, foi quando essa comissão integrou algumas pessoas que residiam em Lisboa que surgiu a ideia da compra de caracóis para a realização de uma petiscada. O sucesso foi imediato e repetiu-se em anos seguintes.
 Ao longo dos anos foram acrescentados novos petiscos e hoje são servidos os caracóis, bifanas, cristas, moelas, orelha de porco e caldo verde. O caldo verde apenas foi introduzido no ano passado, mas já faz parte da ementa integrando-se com os petiscos.
Foram várias centenas de pessoas que estiveram no campo de futebol da aldeia, junto da capela de St.ª Marinha para saborearem os petiscos. Eu diria que foram perto de 400 pessoas. A noite esteve agradável e muitas famílias inteiras marcaram presença, vindas dos mais variados pontos do concelho.
Infelizmente a capela de St.ª Marinha estava fechada, mas consegui que me fosse aberta a porta para fazer algumas fotografias. O facto de estar encerrada justifica-se com a necessidade de canalizar todo o pessoal disponível para servir às mesas, mas penso que ficaria bem ter a capela aberta.
É um espaço bonito, rústico, muito bem recuperado.
 A principal curiosidade está no exterior. São 5 pilares de granito, de tamanhos desiguais e erigidos de forma desorganizada. São muito enigmáticos levantando muitas possibilidades quanto ao seu simbolismo. Algumas delas vão para além da idade da capela, indo até à pré-história. À quem lhe atribua o simbolismo dos 5 dedos de uma mão, todos desiguais, que estariam relacionados com a administração da justiça. Outra justificação, bem mais plausível e recente, aponta para a existência de um Cabido exterior fazendo os pilares em granito parte do suporte do telhado, que se erguia à frente da capela. Esta construção não é muito frequente no planalto mirandês, mas há muitos exemplos em Trás-dos-Montes, embora nunca se trate de pilares tão rústicos. Não posso deixar de salientar que existe algo de semelhante, aqui bem próximo, em Vila Chã da Braciosa, nas ruínas da capela da Trindade.
A festa de Santa Marinha vai ainda prolongar-se pelos dias 23 e 24 de Julho.